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Geral

A Parábola do Semeador- Octavia E. Butler

 

 
Publicado originalmente em 1993, este livro foi pensado para fazer parte de uma trilogia – Semente da Terra – que não pode ser concluída, tendo parado no segundo livro, em decorrência do falecimento da autora.
 
Aqui temos como personagem principal Lauren Olamina, uma jovem negra de 15 anos que através de um diário nos conta a rotina de seu bairro e a realidade que a cidade da Califórnia está vivendo nos anos 2024 até 2027, quando ela completa 18 anos.
A realidade é que o acesso a recursos básicos para sobrevivências estão muitos escassos devido à crise ambiental pela qual está passando o planeta.  A falta de chuvas faz com que o preço da água e dos alimentos seja muito elevado, o mesmo com o preço da gasolina, tanto que não se usa mais carros, sendo mais comum caminhar à pé ou andar de bicicleta, no caso de pessoas que ainda têm um emprego, já que a taxa de desemprego está muito alta e as pessoas são obrigadas a migrarem para outras cidades e países para tentarem a sorte. Também, reina a violência em todas as suas formas, pois se trata de sobrevivência, com o retorno aos instintos mais pré-históricos para tal. Uma forma de proteção é viver em bairros murados, como é o caso de Lauren e sua comunidade, o que nem sempre previne invasões e roubos.
 
“A liberdade é perigosa, Cory, mas também é preciosa. Não dá para vendê-la por pão e mingau” (p.153).
 
Além do caos devido a toda essa situação, há o surgimento de uma droga que faz com que as pessoas sob o efeito dela sintam vontade de provocar incêndios. Há epidemias de sarampo, serviços do Estado que são privatizados, como o trabalho dos policiais, que só trabalham mediante pagamento. Situações como essas fazem com que a comunidade de Lauren faça treino com armas como prevenções para situações de risco.
 
Lauren é filha de um pastor e desde criança teve muito contato com a religião de seu pai, mas na medida em que foi crescendo passou a questionar alguns ensinamentos da igreja e a pensar em uma religião própria a partir de um sistema de crença na qual a Mudança seria a única verdade imutável, que ela chama de Semente da Terra: “Tudo que você toca/Você Muda./ Todo que você Muda/ Muda você./ A única verdade perene/ É a Mudança./Deus é Mudança” (p.12).
Considero a Lauren uma personagem muito crítica e visionária, que sempre pensou para além dos muros do bairro. Ela tem uma característica que a faz ser diferente de sua família e das demais pessoas que é a síndrome de hiperempatia, o que a faz sentir o que ela vê os outros sentindo, seja prazer ou dor, isso também faz com que ela seja um alvo fácil em uma realidade cheia de violência como a que ela está inserida, então ela faz o máximo para esconder das demais pessoas, só sua família sabe. É muito bom acompanhar o desenvolvimento da Lauren e o amadurecimento de sua forma de pensar.

 

É verdade que é um livro que fala bastante sobre Deus e religião, mas o objetivo não é converter o leitor, pelo contrário, faz pensar bastante sobre a imagem que se cria de um Deus, faz pensar sobre o nível de desespero que o ser humano pode chegar a ponto de ser destituído de toda sua humanidade e no quanto a sociedade como conhecemos atualmente está encaminhando-se para uma realidade não muito diferente da que é descrita no livro, principalmente na questão política, com todo o descaso daqueles que deveriam pelo menos garantir o mínimo necessário para se viver.
Desde o começo não foi uma leitura fácil, mas quanto menos fácil era, mas necessário se tornava pelo choque de realidade, por fazer refletir sobre a nossa proximidade com o cenário descrito no livro.
Tem um acontecimento no livro, já do meio para o final, que me deixou um pouco incomodada, mas não sei falar dele sem dar spolier. É compreensível dada a realidade na qual estão vivendo, mas não deixa de ser incômodo. Espero que o próximo livro aborde mais isso que me incomodou e traga respostas.
 
Essa edição da editora Morro Branco apresenta alguns atributos que merecem destaque: capa soft-touch, orelhas, entrevista com a autora e questões para discussão, que agregam muito no entendimento do livro. Além disso, o projeto gráfico está impecável!
 
*Livro recebido da editora para leitura com o Clã das Pretas.

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15 Comentários

  • Responder
    Unknown
    7 novembro, 2018 em 10:34

    Para concorrer ao livro:
    Lorena Leite
    Já sigo o blog GFC
    E sigo o blog e as editoras no Instagram (meu usuário: loreleite)

  • Responder
    Unknown
    7 novembro, 2018 em 11:07

    Adorei a resenha. Gostaria muito de ler algo da autora. Esse livro me pareceu muito interessante. Vi que muita gente gostou!!!

  • Responder
    Alessandra Reis
    7 novembro, 2018 em 19:06

    Trilogia inacabada entristece o coração de qualquer leitor, mesmo sabendo que foi por causa de falecimento da autora. Mas lendo a sua resenha fiquei com mais vontade de ler essa e as outras obras da autora. Ainda não li nada dela, mas está na minha lista de desejados desde o lançamento de Kindred.

    Para fins de participação no sorteio, querendo as chances extras, sigo as suas redes sociais:
    Instagram, como @universoaleziano
    Facebook, como facebook.com/Alessandra.Reis.78
    Twitter, como @Alessandra1Reis
    Skoob, como skoob.com.br/usuario/82231

  • Responder
    Falkner Moreira
    7 novembro, 2018 em 19:06

    Tive uma experiência incrível lendo Kindred. Foi um livro mega especial e fiquei extremamente feliz com a publicação desse livro pela Morro Branco. Passei a confiar de verdade que eles vão entregar um trabalho impecável a cada novo livro lançado. <3 Ainda não tinha lido nada a respeito de A Parábola do Semeador, mas fico pensando no quanto o Afrofuturismo é presente e característica do que a Octavia cria. Simplesmente sensacional!!

  • Responder
    Natalia
    7 novembro, 2018 em 22:45

    Nossa, descobri muita coisa com essa resenha haha não sabia que era pra ser trilogia, que a autora havia morrido e que abordava tanto questões de espiritualidade. Estou ainda mais interessada:)

    Além de seguir o blog pelo GFC, também sigo o seu e o das editoras no Instagram (@chaves_natalia)

  • Responder
    Carolina Santos
    7 novembro, 2018 em 22:45

    Ahh que resenha linda!
    Não sabia que tinha mais um livro da Octavia E. Butler publicado aqui e já super animei a ler!
    Gostei da premissa e nem sabia que existia uma sindrome assim, nao deve ser nada facil viver sentindo os que outros sentem.
    Já vi que vou me emocionar mto com a leitura, assim como o primeiro livro e com certeza vou ler.
    Beijos.

  • Responder
    Dani
    8 novembro, 2018 em 11:18

    Nossa, eu também descobri muitas coisas só lendo essa resenha. Hahah estou participando do sorteio, ja segui o blog. 😊

  • Responder
    RUDYNALVA
    8 novembro, 2018 em 11:18

    Bem, deve mesmo ser um livro cheio de paradigmas a serem quebrados, ainda mais quando se fala de religião, mesmo que não seja doutrinadora, nos faz questionar certos preceitos que temos.
    cheirinhos
    Rudy

  • Responder
    Evandro Atraentemente
    9 novembro, 2018 em 01:07

    Eu não conhecia o livro, mas fiquei imensamente interessado. Que triste saber que a autora faleceu sem concluir a trilogia. O enredo realmente retrata um ambiente não muito diferente do que imaginamos pelos caminhos que andamos trilhando. Essa síndrome que a personagem sofre é bem diferente. Fiquei curioso pra saber se realmente existe, pois nunca ouvi falar. Vou pesquisar sobre isso.

    Evandro

  • Responder
    Patricia FQ
    9 novembro, 2018 em 11:24

    Este tipo de história esta começando a me assustar, parece cada vez mais real e iminente. Como vc disse "quanto menos fácil era, mas necessário se tornava ", precisamos, mais que nunca, de pensar, avaliar, questionar, duvidar.. Precisamos mudar como sociedade e a leitura é sempre o primeiro passo.

  • Responder
    Unknown
    11 novembro, 2018 em 11:57

    Adoro Octavia E. Butler. Fui em um evento da Morro Branco que falava sobre afrofuturismo no lançamento desse livro! Mas não pude comprar na oportunidade. D=

  • Responder
    Lorrane da Silva
    12 novembro, 2018 em 16:48

    Olá, Maria! Tudo bem?
    Eu ainda não li os livros da Octavia Butler, acredita? Mas Kindred está na minha lista de leituras do #BingoLitNegra
    Após a sua resenha fiquei com ainda mais vontade de ler As Parábolas do Semeador.
    Beijos!

  • Responder
    Unknown
    13 novembro, 2018 em 11:24

    Amei a resenha tanto quanto o livro e por isto vim tentar participar do sorteio – o incentivo à leitura que você promove é uma coisa linda. Sou estudante do curso de Licenciatura em Geografia (pela UFPE) e pesquiso sobre as intersecções existentes entre Geografia e Literatura, sobretudo se tratando da formação do espaço geográfico (objeto de estudo da Geografia). Ultimamente tenho me atentado à literatura de autoria feminina (mas ""só"" trabalhei com a poesia de Ryane Leão até então), e sabendo que Octavia é representante de causas sociais, me lanço à sorte para tentar trabalhar com ela também, enaltecer este nome, na academia e na educação básica, mais que uma honra, haha. <3

  • Responder
    Priscila
    13 novembro, 2018 em 11:24

    Para concorrer ao livro: sigo o instagram do blog e o da Editora Morro Branco também. Meu instagram é @priscilapanza

  • Responder
    Viviane - RJ
    10 maio, 2020 em 21:51

    Parabéns pelo site! Adorei a proposta! Precisamos de mais espaços como esse!

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