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Diário de Leitura #1 – Um Defeito de Cor

Dia 18 chegamos ao fim da primeira semana da leitura conjunta do livro “Um Defeito de Cor”, da Ana Maria Gonçalves.
Nesta semana lemos o prólogo e capítulo um. Em relação ao primeiro, é escrito pela própria autora. Nele, é apresentado ao leitor a definição de “serendipidade”, que é encontrar algo quando se está procurando outra coisa, mas para que este momento mágico faça sentido, é preciso estar preparado, de alguma forma, para a descoberta inesperada.
A autora também explica que o livro resultou de um momento de serendipidade. Explica qual a história que o originou e tornou sua existência possível. Algumas palavras a autora optou por deixar em iorubá. Nesses casos, há a tradução ou nota de rodapé.
A seguir, apresentarei um pouco do que li e os sentimentos causados, portanto, pode conter spoiler.

 O capítulo um inicia com a apresentação de Kehinde, a personagem principal e narradora do livro, portanto, teremos uma narração em primeira pessoa. Kehinde nasceu em Savalu, no reino de Daomé, na África, em 1810. Em seguida, nos apresenta sua família e aqui ficamos sabendo que ela tem uma irmã gêmea (ibêji em iorubà), Taiwo, um irmão, mãe e avó. Na família há uma forte presença do culto aos orixás, que na história são chamados de eguns.
Um dia, os guerreiros do rei Adandozan foram onde a família de Kehinde morava para buscar galinhas a mando do rei, mas por uma infelicidade, resolveram implicar com tapete que a avó estava costurando e esse episódio foi devastador para a família, resultando em duas mortes e muitos traumas. A descrição, do ponto de vista de uma criança é o que torna a cena ainda mais dolorosa e devastadora do que ela já é. E o faz de um modo muito sensível, porque transformar sangue em rio é sensibilidade pura, é elevar a pessoa morta a um patamar maior.
Depois desse episódio devastador, a avó foi embora com as netas para Uidá. Durante a viagem, Kehinde faz considerações sobre a paisagem, sobre o percurso e sobre as pessoas que encontram pelo caminho.

“Naqueles dias, com tantas descobertas, eu me sentia como se tivesse nascido de novo, em uma outra época, em um lugar muito diferente de tudo que eu pensava existir”.

Em Uidá foram convidadas por uma mulher chamada Titilayo, nome que significa “a felicidade eterna”, para ficarem em sua casa até que encontrassem um lugar para elas. Gosto muito de ver como os nomes têm significados e como esse significado pode ser determinante do futuro da pessoa. Durante esse tempo, Kehinde faz uma descrição da casa e compara com a sua antiga de Savalu.
Foi Akin, filho da mulher que abriu as portas de sua casa para a avó e suas netas, quem apresentou o mar para Kehinde e Taiwo. Esse episódio me fez lembrar a primeira vez que vi o mar pessoalmente, do quanto a imensidão dele me encantou e de como tomei consciência da minha pequenez. Achei muito bonita a ideia de que o mar é a morada de Iemanjá.
Em Savalu, Kehinde só viu pessoas brancas uma única vez, mas em Uidá era muito comum vê-los com frequência. Foi alertada de que os negros eram levados pelos brancos para viverem como carneiros no estrangeiro.

“Tenho boas recordações daquele tempo, quando tudo era novo, todos os momentos eram felizes e eu nem sequer imaginava o que ainda estava para acontecer”.

Sabendo da chegada de um navio que vinha do estrangeiro, as irmãs foram vê-lo sem avisar a ninguém e por serem gêmeas, despertaram o interesse dos brancos, que mandaram prendê-las. Esse episódio foi um dos que mudou suas vidas para sempre. Por pouco elas não iam embora sem ninguém saber, mas no último minuto a avó apareceu e implorou para ir junto com elas. Presas no porão de um navio, junto com outras pessoas, mulheres e homens de religiões diferentes, havia muçurumins (muçulmanos) que acreditavam que estavam indo para Meca, todos perderam a noção do tempo. As condições sanitárias eram as piores possíveis e não demorou muito para as doenças aparecerem, o que resultou em muitas mortes, duas delas foram Taiwo e avó.
Quando o navio chegou no Brasil, as pessoas que sobreviveram foram levadas para passar uns dias na Ilha de Frades para recuperar um pouco da saúde. Antes de desceram, as mulheres tinham que ser batizadas com um nome cristão, como os homens tinham sido antes de embarcarem em Uidá, mas Kehinde saiu correndo e fugiu desse batismo.

“Mas a pior de todas as sensações, mesmo não sabendo direito a que significava, era a de ser um navio perdido no mar, e não a de estar dentro de um”.

Para acompanhar o que as outras pessoas estão achando da leitura estamos usando a #LendoUmDefeitodeCor lá no Instagram 😉 

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