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Paul Beatty em São Paulo

Facebook da editora
Tem uma editora nova no mercado brasileiro. Uma editora que promete trazer o melhor da ficção e não ficção para o Brasil, nos mais diversos gêneros: romance, ensaio, quadrinhos, biografia, poesia, etc. Desde clássicos à contemporâneos, de autores brasileiros e internacionais. É uma editora que garante publicar livros para o nosso tempo. Essa editora é a Todavia, formada por ex-funcionários da Companhia das Letras.

As primeiras quatro publicações são livros que dão uma demonstração clara do que a editora vai ser: “O Bulevar dos Sonhos Partidos”(HQ), Kim Deitch; “O Palácio da Memória” (não ficção), Nate DiMeo; “Acre”(Romance), Lucrecia Zappi; e “O Vendido” (Romance), Paul Beatty.

Paul Beatty esteve na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) na última semana de julho e seu livro, segundo o Publisnews, está entre os dez mais vendidos durante o evento.
Ontem, 02/09, o autor esteve em São Paulo, no Centro Cultural de São Paulo (CCSP), para uma conversa sobre literatura, raça e identidade, com Djamila Ribeiro, feminista negra, ativista, filósofa e colunista da CartaCapital. A conversa foi mediada por Fernando Luna e o encerramento se deu com um pocket show de Rincon Sapiência, rapper e MC. Tudo foi transmitido ao vivo na página da editora no Facebook.
Começou por volta das 19h30, com distribuição de ingressos antes do início. Eu cheguei no CCSP às 18h10, preocupada se ainda teria ingressos porque pensei que estaria lotado, uma vez que era um evento que reunia nomes de peso. Ainda meio perdida, procurando o local e alguém que eu conhecesse, dei de cara com o Rincon Sapiência e pedi uma foto (veja no Twitter). Depois disso, ainda meio perdida, fui abordada por uma senhora indignada porque no ingresso só constava o nome do autor e não o da Djamila, que isso era um grande ato machista. (Inclusive, essa mesma senhora abordou essa questão quando foi aberto para perguntas). Aproveitei para perguntar onde ela tinha pegado o ingresso e lá fui eu para a bilheteria. Fiquei surpresa de não ter fila e das proximidades do local não estar lotado de pessoas, como eu pensei que estaria.
Não demorou muito, encontrei as meninas do Instagram: Camilla (@camillaeseuslivros), Camille (@liecurti) e Mirella [(@­_coffee_and_books_) que eu não conhecia pessoalmente ainda]. Quando se aproximou mais do horário, mais pessoas foram chegando e no fim, a sala ficou lotada.
Sobre o evento em si, foi cerca de uma hora para a conversa, na qual ficou evidente uma certa tensão entre a Djamila e o autor. Ficou claro que eles têm opiniões diferentes sobre o assunto raça, ainda mais porque um está inserido em uma realidade norte-americana e a outra em uma realidade brasileira, que apesar dos pontos de intersecção, o racismo se manifesta de formas diferentes. A Djamila é de uma postura mais ativista, que pensa se tem que manifestar sim contra o racismo em suas diversas formas, enquanto o Paul Beatty, se mostrou o contrário desta postura. Disse que não se considera um ativista e que não se importa com a interpretação que os leitores brancos farão de seu livro, que ele não tenta mudar a cabeça de ninguém. O livro é um romance cheio de sarcasmo e ironia sobre os negros e sua história, mas do ponto de vista de um personagem negro. Não sei se isso ameniza o fato de se fazer piada sobre negros, mesmo que quem conta a piada seja um negro.
O autor evitou se posicionar concretamente sobre o assunto que estava sendo tratado, ficou evidente um certo desconforto da Djamila com muitas falas dele, mas ela soube se posicionar muito bem na conversa e foi aplaudida e ovacionada após suas falas.
Eu gosto muito da Djamila porque ela é uma pessoa extremamente coerente, determinada e é referência quando o assunto é feminismo negro.
Confesso que fiquei um pouco decepcionada em relação ao Paul Beatty, isso tem a ver com a imagem, talvez um pouco idealizada, que eu tinha dele de ativista e militante em prol da causa dos negros, o que foi descontruído no evento.
Sobre o livro, já li mas ainda estou pensando a respeito. Vou tentar não deixar que essa nova forma de ver o autor não influencie muito na minha opinião sobre o livro.
Depois do encerramento com o show do Rincon, o autor autografou os livros. Se eu já fico nervosa quando eu vou pegar autógrafo com autor nacional, imaginem com um norte-americano. O coração acelerou um pouco, misturei português, inglês e espanhol, esqueci completamente aquela aula do curso de inglês, que tive semestre passado, de como se diz que foi um prazer conhecer a pessoa, não deu tempo de tirar foto dele escrevendo meu autógrafo, mas no fim, deu tudo certo.
Apesar da tensão que teve na conversa, achei que a editora acertou em cheio em reunir Djamila Ribeiro, Paul Beatty e Rincon Sapiência em um evento só. Foi tudo muito bem organizado, os funcionários muito atenciosos e simpáticos, teve venda dos livros com preço promocional, gostei que teve tradução simultânea e de ver tanta gente preta reunida. 
A Todavia já tem uma grande entusiasta e leitora.

3 Comentários

  • Responder
    Danina Novaes
    7 agosto, 2017 em 15:09

    Oi, Maria! Acho inevitável a gente enxergar uma obra de autor por aquilo que ele pensa e age. Eu já mudei muito o meu conceito de atores e diretores de cinema por declarações e atitudes que tiveram. Confesso que fiquei até com má vontade de ver os seu trabalhos. É possível separar as coisas e dizer se algo é "bom" ou não, apesar de eu não gostar muito disso e achar que até certo ponto as coisas são relativas. Mas é difícil isso não afetar a sua experiência, o seu modo de enxergar aquela obra. É como se as peças se encaixassem e de alguma forma aquilo tudo ganha outro sentido.
    Acho que a editora acertou muito em colocar duas pessoas com pensamentos diferentes, acho que isso é muito enriquecedor. Por mais que a gente não goste muito do ponto de vista contrário, se ele não existisse, a gente não poderia escolher um lado ou até mesmo criar o nosso próprio.
    Ótima cobertura do evento, Maria <3

    beijos

    Psicose da Nina | Instagram
    Colunista no Estante Diagonal

  • Responder
    Plinio Batista
    9 agosto, 2017 em 20:13

    Nossa, eu fui olhar essa editora nova que você mencionou e eu gostei bastante. A logomarca deles é hilária. Ela foi criada a partir do formato da boca quandl falamos TO-DA-VI-A. Bem criativo isso haha. Gostei!

    http://www.ocristaocriativo.com
    @ocristaocriativo (instagram) ❤

  • Responder
    Kênia Cândido
    13 agosto, 2017 em 22:59

    Oi Maria.

    Eu não conhecia essa editora e já fui conferi-la. Eu acho que a editora acertou em juntar os autores para os leitores possam ver as opiniões diferentes em um mesmo assunto.Confesso que não conheço nenhum deles, mas fiquei interessada em conhecer o trabalho deles. Principalmente da Djamila Ribeiro. Parabéns pelo post.

    Bjos

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