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A última tragédia- Abdulai Sila

O livro começa com uma pergunta: “- Sinhora, quer criado?”. É Ndani que, encantada pelos relatos de uma de suas quatro madrastas que trabalhou como criada na casa de brancos, foge de sua casa para Bissau, para trabalhar como criada na casa de brancos. Depois de muito procurar por alguém que aceite seus serviços, a garota encontra uma casa em que, inicialmente é mal recebida, mas desiste, depois de muito insistir, consegue ser admitida como criada na casa de Maria Deolinda e seu esposo. Mas sua patroa não aceita seu nome, dizendo que é um nome comunista e passa a chamá-la de Maria Daniela.
Ndani, por sua vez, vai para a capital também para fugir de uma maldição posta sobre ela por um líder religiosa de onde morava. A maldição dizia que ela traria infelicidade para todos os relacionamentos em que entrasse, o que faz com que as pessoas que sabem dessa história afastam-se imediatamente.

Durante toda a narrativa, Ndani relembra as histórias contadas por sua madrasta e comprova que ela tinha mesmo razão quando dizia que os brancos eram diferentes dos negros.

Sua patroa, uma católica fervorosa, faz com Ndani vá para a igreja, o que a garota faz só para cumprir as ordens da patroa, mas no fundo, tem como deus seu Yran e Maria Deolinda imbuída de um sentimento católico promove a criação de escolas para que um número maior de indígenas e negros fossem catequizados e seus feitos têm uma visibilidade tão grande, que é convidada pelo Administrador para conhecê-la pessoalmente.
No terceiro capítulo, a narrativa muda totalmente de perspectiva. Passa a narrar os pensamentos de um Régulo de Quinhamel, que contratou três Conselheiros para o ajudar a pensar nas decisões e resolver os problemas da melhor forma.
O Chefe de Posto, um branco, novo no cargo, começou a questionar sobre a cobrança de impostos e queria que todos pagassem, inclusive o Régulo, que nunca pagou, porque é um tipo de autoridade isenta do pagamento de impostos. Isso preocupou ao Régulo que começou a pensar em como sua autoridade estaria ameaçada caso tivesse que pagar impostos como qualquer outro cidadão comum. O Chefe de Posto revelou posteriormente que havia sido somente uma brincadeira, que o Régulo não teria que pagar impostos como os outros cidadãos, mas o Régulo levou para o lado pessoal e começou a pensar em formas de se vingar do Chefe.
No capítulo seguinte as coisas começam a fazer sentido, as duas histórias se entrecruzam. Percebemos que o Régulo de fato consegue pensar em um plano para se vingar do Chefe e o coloca em prática de uma forma muito eficaz. Ele, que tem muito dinheiro, constroí uma escola, a primeira de Quinhamel e constroí uma grande casa para si. Para cuidar da casa, ele precisa de uma mulher que saiba como administrar uma casa grande como aquela e que seja virgem. É aí que entra Ndani. Ela fora escolhida como a sexta esposa do Régulo, que contrariando seus Conselheiros, que o alertaram sobre a maldição que Ndani carregava, o Régulo tomou Ndani como sua sexta esposa, ignorando por completo os alertas.
O casamento de fato não dá certo. O que acontece é que o Régulo, ao descobrir que Ndani não era virgem, a abandona na casa, sozinha. Com a chegada de um professor para dar aula na escola construída pelo Régulo, Ndani tem uma nova chance com o amor, mas o desenrolar da história não é tão positivo.

Apesar da presença de muitas palavras da cultura guineense, que não necessariamente implica em um problema, porque no final do livro há um glossário, a linguagem é muito acessível e a história é realmente empolgante. Prende o leitor de uma forma que fica difícil largar o livro sem antes ter a resposta para algumas perguntas que vão surgindo no decorrer da leitura. Particularmente, achei genial a forma como o autor vai relacionando os acontecimentos e chega uma hora que tudo está interligado e faz todo sentido.
Leitura recomendada para contato com outras formas de literatura fora do eixo que estamos acostumados e para ampliação de nosso conhecimento de outras culturas.

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