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Geral

III Congresso de Escritores da Periferia

Em novembro de 2017 aconteceu o III Congresso de Escritores da Periferia, no Jardim Ângela, bairro periférico da zona sul de São Paulo. Estive presente no evento e conto abaixo o quanto essa experiência foi importante para minha formação como leitora.

O evento aconteceu no dia 18 de novembro. No dia anterior eu estive na FlinkSampa, tinha ouvido Paulo Lins, autor de Cidade de Deus, falar sobre sua obra, sobre literatura negra e periférica, tinha conhecido e conversado com a poeta costarriquense, Shirley Campbell Barr, que tem o poema “Rotundamente Negra” como um dos mais conhecidos, tive a oportunidade de ouvir um escritor luandense falar sobre sua obra e  indicar autores negros de língua portuguesa. Então nesse dia 18 tive uma complementação do que tinha vivenciado no dia anterior e fiquei muito feliz ao perceber que o debate e questionamento que houve em um evento do porte da FlinkSampa, que aconteceu dentro de uma faculdade, próximo da estação Armênia do metrô, na zona norte/central de São Paulo, era muito próximo do debate que estava sendo levado para o auditório de uma igreja de bairro, na periferia.

Logo na entrada havia uma mesa recepcionando os ouvintes e convidados, na qual se fazia o credenciamento e neste ato ganhava-se um crachá com identificação, um caderninho com a programação completa e uma caneta (ótima para escrever, por sinal!). 

Quando cheguei já estava acontecendo a primeira mesa, na qual Mariana Félix e Felipe Marinho contaram suas experiências como slammers. Felipe, jovem de 18 anos, morador de São Mateus, zona leste, enfatizou o poder que a literatura tem de resgatar uma memória negra esquecida ou não registrada, como também a importância de se escrever sob uma ótica negra. Discutiu como fazer com que as obras sejam acessadas pelos jovens da periferia. Mariana, que tem as mulheres adultas como seu público-alvo, contou que ser um autor vivo é um atrativo quando ela leva suas poesias para os espaços públicos e escolas. Ela objetiva viver de sua arte. Os dois, que trabalham com a poesia falada, acreditam que o material escrito também é importante, porque passa autenticidade. De acordo com Mariana Félix, “Escrever um livro é auto mapear-se no mundo” e eu concordo.

Na mesa “Pensando programas de educação popular para difundir a Literatura Negra dentro e fora das escolas públicas da periferia”, se falou sobre a necessidade de se realizar operações que transformem o modo como os jovens enxergam a si mesmos, é preciso que criem imagens positivas, porque o jovem negro é bombardeado por todos os meios com imagens que os inferiorizam e mudar isso é o primeiro passo para uma mudança maior.

Durante todo o evento se falou sobre o potencial revolucionário da literatura, principalmente a literatura negra. A programação estava excelente, mesclando atividades artísticas com discussões mais aprofundadas. A maioria dos convidados eu não conhecia e gostei de conhecê-los. Gostei de ver que tem muita gente talentosa e periférica ativos em suas produções culturais e que trabalham em prol da divulgação da cultura negra. Contou com 14 debatedores, dos quais 9 eram mulheres e 5 homens, mais um ponto positivo para se ressaltar.
Cantora Bia Doxum

O evento foi organizado pelo coletivo Desenrola E Não me Enrola e pelos jovens do projeto Você Reportér da Periferia, a quem parabenizo pela idealização e organização de um evento tão importante quanto este.

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1 Comentário

  • Responder
    Unknown
    18 março, 2018 em 02:12

    Um evento como esse em um momento tão difícil quanto o que a gente tem vivido é fundamental pra se fortalecer, né? E vê só, mostra a importância que a gente tem enquanto leitoras e o que a gente pode fazer a partir disso. Que esse tipo de debate circule cada vez mais nos espaços físicos e virtuais.

    Aline

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