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Vamos dar as boas vindas

Oi, gente.
Hoje eu venho contar para vocês uma super novidade!
Temos um novo colaborador no Minhas Impressões.

O nome dele é Arsenio Meira. Ele é de Recife, tem 38 anos, é formado em Direito e  exerce a advocacia com enfoque nas áreas de Direito societário e empresarial. Mas antes de saber disso, eu apostava todas as minhas fichas afirmando que ele era formado em Letras ou Literatura porque ele escreve muito bem, as resenhas dele simplesmente são maravilhosas!
Nos conhecemos pelo Skoob e eu fiquei muito feliz quando lancei a proposta dele ser resenhista aqui no blog e ele aceitou. É realmente uma grande honra para mim tê-lo como colaborador e espero que vocês, assim como eu, também curtam o que ele escreve.

Então, vamos dar as boas vindos ao nosso novo amigo, Arsenio, e já podem desfrutar de uma das resenhas maravilhosas que ele escreve.

A arte e o espelho da vida
-Por Arsenio Meira

São dez contos. Pela ordem: 1 – Dimensões; 2- Ficção; 3 – Wenlock Edge; 4 – Buracos-profundos; 5 – Radicais livres; 6- Rosto;7 – Algumas mulheres; 8 – Brincadeira de criança; 9 – Madeira e 10 – Felicidade demais.

Gostei visceralmente de todos. Não vou eleger um; seria uma injustiça suprema aos meus olhos de leitor. Dez diamantes. A dor humana, a miséria, e a solidão das pessoas (sim, são pessoas de carne e osso os personagens de munro) imprimem às narrativas uma elasticidade concreta. Como se fosse possível alongar ou distender um muro. E é. Tchekov não está só.

Alice Munro trabalha artesanalmente, sem estardalhaços, com a verossimilhança, e o faz sob a égide de um estilo aparentemente econômico, corrosivo e direto. Uma prosa que esfaqueia qualquer possibilidade de fuga e penetra no mais fundo pântano que há nos personagens/pessoas, através de diálogos primorosamente belos e corriqueiros, tão triviais que fica impossível não divisar no espelho das tramas um facho de sombra semelhante ao itinerário que, não raro, traçamos. Aqui não residem as descrições estáticas. A fatalidade, como um felino, fica à espreita invisível e palpável como o muro distorcido.

A violência (aqui entendida como o urro de uma criança em sério apuro, ou a lágrima reprimida de alguém que morre à espera de uma mão acolhedora que se ausenta para sempre) estabelece o contato com a realidade cotidiana. Os personagens-pessoas nascem dessa experiência dinâmica e comovedora. Incontornável e aflita.

A sensação é redentora e, ao mesmo tempo angustiante. Se sairmos para dar uma espiada na janela, paira sobre nosso mover-se a certeza de que estaremos perdidos. Eis o cardápio da angústia. Nos contos de Munro, a catarse ocorre por meio de situações que conhecemos: o abandono, o desespero de fugir de uma relação fracassada, um passado em ruínas, esperançoso do futuro; os laços familiares que repercutem às limitações provocadas pela doença ou pelo envelhecimento. O impulso que Munro cria é de identificação, concretização ou repulsa de fantasias. A verossimilhança e a originalidade dos contos advêm da extrema dedicação com que Alice tece pequenos pormenores (lembranças, palavras ou fatos), que desencadeiam e iluminam a compreensão do universo de cada personagem ou pessoa.

É um livro imenso. Os contos, tremeluzentes e autônomos, provocam picos de dor em certos lugares que pensávamos mortos. As pessoas que Munro descreve são imensamente iguais a nós, e dramaticamente diferentes. Elas ressuscitam em meio ao nosso olhar, que se reconhece e se esgarça ante o silêncio desta dor compartilhada.

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